A História da Umbanda Sagrada não pode ser desvinculada da figura memorável do médium Zélio Fernandino de Moraes, carioca da cidade de Niterói - Rio de Janeiro. O primeiro ritual; a primeira menção do termo "umbanda" (tão propalado e tão analisado) e a primeira tenda verdadeiramente instituída, tiveram início a partir do assustado rapaz de dezessete anos de idade, nos idos de 1908. Várias foram as tentativas para tirar o mérito do jovem Zélio.Várias foram as hipóteses levantadas para dar uma nova gênese para a Religião que estabilizou-se como um autêntico culto brasileiro. Idealizaram, ao longo dos anos, diversas teorias para explicar a origem de algo tão simples e tão espetacular ao mesmo tempo como é a Religião nascida no distrito de Neves, em Niterói.
Mirabolantes idéias surgiram e foram se espalhando pelas cidades brasileiras ao mesmo tempo em que a Umbanda crescia e se estabelecia como a mais nova crença espiritualista do Brasil. Livros e mais livros foram escritos com esse propósito. Como citam alguns autores, quiseram "enbranquecer" a Umbanda; quiseram africanizá-la, tentaram milenizá-la e procuraram explicá-la do ponto de vista esotérico (modismo das décadas de 70 e 80) e do ponto de vista cabalístico (a partir da década de 90), tal é o fascínio que a menininha brasileira desperta nos estudiosos.
Outros, de forma preconceituosa, jogaram pedras e espinhos no caminho da Umbanda. Quiseram enlamear sua branca bandeira da caridade, acusando-a de feitiçaria, bruxaria, curandeirismo, demonismo, baixo-espiritismo e outros termos pejorativos, cheios de discriminação.
A Umbanda foi ultrajada, mal-falada, incompreendida e achincalhada, mas fixou suas bases nos corações de mulheres e homens necessitados, conquistou o amor de verdadeiros e corajosos baluartes da Religião, ganhou a confiança de indivíduos cheios de tabus religiosos e dogmas castradores, avançou em meio a uma sociedade preconceituosa e intolerante e se firmou no cenário religioso brasileiro como a Única Religião originariamente brasileira.
Controvérsias à parte, a verdade é que a Religião de Umbanda tornou-se um verdadeiro pronto-socorro para pessoas aflitas e desenganadas. Através das mansas palavras dos Pretos Velhos, espíritos cujas força e paciência são admiráveis, e das receitas miraculosas de banhos e garrafadas à base de ervas ensinadas pelos Caboclos, muitos encontraram a salvação em tendas e terreiros erguidos em fundos de quintal, em pequenos Congás improvisados a partir de aposentos domésticos ou até mesmo debaixo de arvoredos ao ar livre. Criaturas humanas consideradas loucas ou esquizofrênicas descobriram o equilíbrio e a inevitável condição de médiuns nas reuniões umbandistas chamadas Giras.
Graças aos Pretos Velhos e à sua linguagem característica carregada de palavras utilizadas no período colonial brasileiro e aos seus maneirismos na utilização de cachimbos, pembas, velas e rosários, a Umbanda recebeu a fama de ser uma religião africana. Quiseram relegar os amados espíritos conhecidos como Pai Antônio, Pai Joaquim e Maria Conga ao gueto, considerando-os espíritos atrasados e cheios de vícios materiais. Devido aos banhos, remédios, charutos e brados de Caboclos conhecidos pelos nomes de Sete Flechas, Jurema e Pena Branca, lançaram o veredito de que a Umbanda era apenas uma das muitas ramificações da pajelança e dos extintos cultos indígenas brasileiros. Alguns quiseram até mesmo torná-la um pouco mais aceitável, buscando nos antigos povos Maias, Incas e Astecas, a origem milenar dos espíritos que se apresentavam como simples caboclos.Os rituais de mesa, a utilização do Evangelho Segundo o Espiritismo, as preces e a propagação do nome de Jesus dentro dos terreiros foram os motivos para que muitos homens se levantassem do silêncio e do anonimato e se arvorassem como profundos entendidos das coisas espirituais e classificassem a Religião de Umbanda como uma forma deturpada do espiritismo de Allan Kardec. Levantaram-se armados com livros e força policial para fechar as casas umbandistas e aprisionar os médiuns, homens e mulheres simples que apenas queriam ajudar o próximo. O amor e a compreensão deram lugar ao ódio e à intolerância. "A caridade, ensinamento primordial de Jesus, não podia ser realizada por pessoas leigas e atrasadas em sua evolução intelectual".
O sincretismo com outras crenças, fato extremamente necessário à expansão da Umbanda, causou comichões em vários teólogos e defensores da fictícia pureza das doutrinas já estabelecidas. A presença de determinadas imagens nos altares de Umbanda, algumas rezas e a utilização de objetos oriundos de ritos católicos despertou o furor de alguns beatos que passaram a acusar os umbandistas de hereges e os chefes de terreiro de falsos profetas da idade contemporânea. Outros, mais enfurecidos, iniciaram uma campanha silenciosa para descrédito da veracidade da existência de personagens históricos como São Jorge e os Santos Cosme e Damião, justamente pelo fato de serem honrados nos Pegis de Umbanda.
O crescente número de charlatães e mistificadores no seio da Umbanda, fato inerente a todas as religiões do mundo, provocou as autoridades que encontraram motivos de sobra para invadir casas particulares e terreiros. Já a vaidosa sabedoria de uns poucos homens que se denominavam mestres e doutores, fez com que surgissem diversas facções dentro da novel religiao, transformando associações e federações em quartéis generais fortemente preparadas para uma batalha de interesses. Surgiram então, os vários órgãos, conselhos e outros agrupamentos rivais entre si. As diferenças de opiniões partiram dos centros vizinhos e ganharam os Estados brasileiros.
Mas, em meio a esse turbilhão de fatos negativos, a Umbanda conseguiu sobreviver e não sucumbiu diante das intempéries. A forte e vigorosa Umbanda Sagrada atravessou os escombros e atingiu o outro lado da situação. Avançou, ao longo dos anos, a passos lentos, firmes e cheios da autoridade dos Espíritos Mentores de Aruanda. Apesar dos ventos fortes contrários, a bandeira da Umbanda prosseguiu empunhada pelos reais defensores da Caridade e completou Cem Anos de existência no Plano Material. Humilde como uma pomba, mas Forte como um Leão, nao se deixou abater.
Foto do Zélio: Retirado do Site Registros de Umbanda, to texto de Fernando Guimarães
http://registrosdeumbanda.wordpress.com/2009/12/13/o-vereador-zelio-fernandino-de-moraes/