Completados os Cem Anos da Religião de Umbanda na Terra e depois de grande movimentação por parte de inúmeros agrupamentos umbandistas em torno das comemorações do Centenário, surge agora uma nova tarefa para os dirigentes de Tendas e Centros de Umbanda. Deverá ser um trabalho simples, mas com grandes resultados para a Umbanda que, passo a passo, ganha respaldo político e firma-se perante a sociedade como uma religião genuinamente brasileira.
Perante milhares de pessoas, homens e mulheres de renome político e cultural, abrem seus lábios num firme sentimento de orgulho e falam carinhosamente da Umbanda e seus seguidores. Verifica-se nos meios de comunicação existentes, eletrônicos ou não, diversos testemunhos de umbandistas e simpatizantes enaltecendo a preciosidade da Umbanda dos Pretos Velhos e dos Caboclos. Mais do que nunca, centenas de seguidores e militantes da fé umbandista estão saindo do anonimato e alcançado destaque entre o populacho. Alguns, mal interpretados, enfrentam os leões da calúnia e da difamação por conta de disputas políticas ou ideológicas.
Toda essa movimentação faz parte do processo de crescimento da Umbanda e da evolução dos umbandistas. Muita coisa está entrando nos eixos. A doutrina ainda está em processo de afirmação dentro dos próprios terreiros. Grande número de pseudo-umbandistas está deixando a religião dos Espíritos e mudando suas crenças para uma fé limitadora dirigida por seus pares semelhantes. Ao mesmo tempo, crescem também as pequenas casas de Umbanda, erguidas de qualquer jeito, com os primeiros ou os atuais fundamentos, por homens e mulheres experientes ou inexperientes, experimentados ou não.
A religião atravessou as fronteiras e fincou suas bases em países do primeiro mundo desbancando preconceitos e quebrando tabus, onde um "preto" ensina mistérios divinos a doutores e cientistas brancos. Uma religião em que um mestiço tipicamente analfabeto descortina os véus da espiritualidade e abre os olhos da fé de homens de "puro sangue". Um "novo culto", como definiu o Caboclo das Sete Encruzilhadas, onde Espíritos que outrora não podiam assentar-se à mesa dos estudiosos, hoje auxiliam indistintamente milhares de encarnados a encontrar o caminho para a solução de seus problemas.
A Umbanda entra agora em mais um período de sua existência como religião brasileira. Inicia-se a contagem de mais cem anos. Novamente irão se levantar mais homens e mulheres de fibra e corajosamente erguerão a bandeira branca da Umbanda anunciando o trabalho caritativo dos Caboclos e dos Pretos Velhos.
A bandeira da Umbanda é branca. Sua luz é resplandecente. Seus Espíritos militantes são iluminados. Seus templos são palco de vida e sabedoria. Mas, agora é a hora dos acertos e das correções.
Sabedores da brancura da bandeira umbandista, os dirigentes da religião têm o dever de verificar como o seu templo está sendo apresentado à sociedade. Como os adeptos de outras religiões ou as pessoas sem caminhos estão vendo o seu templo. Os Chefes de Terreiro devem, a partir de agora - enquanto é cedo -, analisar a sua própria conduta e a de seus médiuns, os quais os chamam de "filhos", e elaborar um belo trabalho de renovação de atitudes ou afirmação de boa conduta.
O primeiro passo está em começar a partir de si. Ora, se um Chefe de Terreiro deseja que seus filhos sejam o melhor exemplo da Religião de Umbanda, ele precisa definir-se como o modelo a ser seguido por todos. É imprescindível que o "babalawô" seja realmente o "paizinho" a que todos tenham o orgulho de apresentar suas coroas e pedir a bênção.
Como solicitar a bênção de alguém que tem as mãos sujas de concupiscências como: vida desregrada, mentiras, enganações, mistificações, soberba, ganância e vaidade? Como aceitar os ensinamentos acerca de "caridade" de um Pai ou Mãe que nem sabe fazer o que a Umbanda prega, uma vez que ele próprio faz da fé o seu meio de vida e de onde tira o sustento material? De que forma o médium de uma corrente vai demonstrar boa conduta e representar a sua religião quando ele mesmo envergonha-se do dirigente que anda trôpego pelas ruas empunhando uma garrafa de cachaça, assentado em mesas de jogatina ou deitado em camas de meretrício?
O Chefe de uma casa de Umbanda precisa ser o Espelho da Religião, e nunca ser visto como o busto de alguém já morto. O espelho mostra com clareza a face do indivíduo, enquanto a efígie é o reflexo inerte de algo passado.
É mister que o Chefe de Terreiro seja vivo, ágil, ativo, brilhante e verdadeiro. Suas palavras não podem jamais ser igualadas aos discursos hipócritas dos fariseus dos tempos idos. De igual forma ele também não pode ser um testemunho morto de um reinado destruído e decadente, como a esfinge do antigo Egito, cujas palavras traziam apenas mistério e morte.
No limiar de uma nova era que começa para a Umbanda, todos os dirigentes devem agora iniciar o processo de mudança de hábitos e reforma de suas condutas. Está na hora de abandonar o ganho fácil do "vil metal" - como classificou o Caboclo das Sete Encruzilhadas! Chegou o tempo de usar vestimenta simples e branca e desprovida de muitos atavios desnecessários. Chegou a hora dos Babalawôs, Pais de Santo, Mães no Santo, Babalorixás ou simplesmente Chefes de Terreiro abandonarem os seus títulos de super-poderosos homens e mulheres de Deus. É chegado o momento de assimilarem a humildade e a sinceridade dos Pretos Velhos e a meiguice das Crianças; a honra e a sabedoria dos Caboclos e a verdade dos Exus.
Trilhar mais um período de Cem Anos poderá até ser fácil para milhares de umbandistas, mas atingir o próximo Centenário com Orgulho e Honradez dependerá muitíssimo da conduta individual de Chefes e demais médiuns da Corrente de Umbanda.
Deus Salve a Umbanda!
Julio Cezar Gomes Pinto