segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Fim de Ano à Beira-Mar




Despedir-se do Ano que passou e, ao mesmo tempo, comemorar a chegada do Ano Novo à beira-mar parece ser uma obrigação de quase todas as pessoas que residem nas cidades litorâneas. Tornou-se uma tradição nas principais cidades situadas no litoral brasileiro.
De norte a sul do Brasil, todos se vestem de branco, com esporádicas e sutis mudanças ocasionadas pela moda, e correm em direção à praia com flores, champanhes, velas e barquinhos para saudar Iemanjá e receber com alegria o Ano Novo que se aproxima.
Entre os umbandistas esta prática é quase que uma regra, pois é comum acompanhar as Giras de Umbanda processadas ao ar livre, diante de olhares curiosos, céticos, debochados ou respeitosos. Nas tais cidades litorâneas do país, terreiros de Umbanda e barracões de Candomblé, preparam as oferendas e partem, em verdadeira romaria, para a praia.
Pode-se dizer que o fim-de-ano é uma das pouquíssimas oportunidades que os umbandistas têm para realizar oferendas para dois Orixás nos seus pontos de força ao mesmo tempo. Isto porque é na beira-mar onde se encontra o ponto de força maior da Divina Mãe Iemanjá e seu pólo negativo que é o Divino Pai Omulu.
Através da obra mediúnica "O Código de Umbanda", (Editora Madras) de Rubens Saraceni, os mentores espirituais responsáveis pela implantação e divulgação da religião de Umbanda na Terra ensinam que enquanto Iemanjá, Orixá que está assentado num dos pólos do Trono da Geração, tem no mar o seu ponto de força, Omulu tem na beira-mar seu local de grande magnetismo.
Segundo Rubens Saraceni, "Yemanjá, ou Mãe da Vida, é a Senhora da Geração e suas irradiações estimulam os seres a ampararem as criaturas (vidas). Ela é a maternidade que envolve os seres... Ela é a água da vida que vivifica os sentimentos e, em suas irradiações, umidifica os seres, tornando-os fecundos na criatividade (vida)."

"Omulu é negativo e seu magnetismo atrai os seres que se desvirtuaram e se tornaram estéreis. Se não criam mais nada, é hora de serem reduzidos a pó para que, nas águas de Yemanjá, voltem a ser espalhados, e que, no eterno movimento das marés, venham a ser reunidos, umidificados, fertilizados e renasçam para uma nova vida... Yemanjá... fecunda, Omulu... esteriliza. Enfim, são os opostos que regulam a Vida (geração)."


Os Caboclos e Pretos-Velhos da Umbanda conhecem todos esses detalhes, todos esses mistérios, que só agora estão sendo revelados através da psicografia de Rubens Saraceni e, sabiamente incutiram no mental dos Chefes de Terreiro o desejo de levar seus filhos no último dia do ano às praias, para que juntos pudessem prestar a devida homenagem à Mãe da Vida, a Divina Iemanjá. Ao mesmo tempo, todos juntos passaram a reverenciar o seu oposto, o Senhor da Morte, o Divino Omulu, pois assim como o mar é o ponto de força natural de Iemanjá, a beira do mar é o local de grande magnetismo do Orixá Omulu. É o mar, a Grande Calunga, (Grande Cemitério), como definiram os Guias..
E não é para menos. O mar, nas lendas iorubanas, é o Reino da Mãe Iemanjá. É o início da Vida, por isso, foi considerada a Mãe de todos os Orixás, segundo as lendas africanas.
Mas, a visão e o entendimento que os umbandistas devem ter a respeito de Iemanjá estão detalhados minuciosamente nos escritos de Rubens Saraceni, inspirado pelos diletos mentores que trabalham na divulgação e na difusão da religião de Umbanda a partir do Astral.
Inconscientemente, umbandistas e simpatizantes, descem ao santuário de Iemanjá para celebrar uma nova vida que começa. É o Novo Ano que se aproxima e chega no primeiro dia de janeiro.

No livro "Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada" (Editora Madras), Rubens Saraceni explica que "existem locais cujas energias ou cujos magnetismos são mais "puros" e facilitam o contato com o outro "lado" da vida."
"Estes locais são chamados de pontos de forças ou santuários naturais, porque é neles que devemos realizar cerimônias "abertas" nas quais cultuamos, evocamos e entramos em contato mediúnico com nossos guias espirituais e nossos amados pais e mães orixás."
"A beira-mar é um ponto de forças natural e é tido como o altar aberto a todos pela nossa mãe Iemanjá."
As comemorações e oferendas realizadas nas praias das cidades litorâneas é uma perfeita simbologia que aponta para aquilo que Deus realiza através do Trono da Geração, polarizado por Iemanjá e Omulu. É o encontro do que se finda, com aquilo que se inicia. É o encontro da Morte (representado pelo velho ano que se vai) com a Vida (simbolizada com a chegada do ano novo). É uma saudação à Mãe da Vida, através dos fogos de artifício, do espoucar das champanhes, dos sorrisos emocionados de todos e uma reverência ao Senhor da Morte, através dos cânticos de despedida e da emocionante contagem regressiva em uníssono.
Muitos realizam suas comemorações de fim de ano em grandes centros urbanos, dentro de igrejas, em casa ou num clube, mas nada se compara à emoção contagiante de uma "Entrada de Ano Novo" junto ao mar. Todos que assim fizeram experimentaram uma sensação diferente de renovação das forças e da esperança de dias mais felizes e bem aventurados. A irradiação emitida do Alto é incomparável, justamente por causa do que representa o fim e o começo de um período de 12 meses.

Diz Rubens ainda: "O culto aos orixás, sempre que possível, deve ser realizado nos seus pontos de forças ou santuários naturais, porque nesses locais a energia ambiente é mais afim com a deles, e os magnetismos ali existentes diluem possíveis condensações energéticas existentes no campo vibratório das pessoas."
Ao encerrar o velho ano na beira-mar, ou seja, onde termina a terra e começa a água, qualquer pessoa está se desvencilhando de toda velha energia que ficou desgastada pelo ano que se passou e, ao mesmo tempo, está de peito aberto para receber em si a irradiação emitida pelo Trono da Geração que cria no íntimo de cada um o desejo e a certeza de que o Ano Novo será melhor e mais próspero.
Essa é a razão de tanta alegria que sente todo aquele que vai nas praias levar flores, perfumes e manjares para a Mãe D`Água.
O anseio por deixar para trás as coisas ruins e negativas do Velho Ano é o motivo pelo qual as pessoas choram e deixam cair na areia da praia suas lágrimas que, sem o saberem, estão reverenciando o Divino Pai Omulu.

A Linha das Crianças


Na Sagrada Umbanda manifestam-se Espiritos que por sua natureza encantam e alegram todo o ambiente, trazendo aos presentes uma sensaçao de pureza, alegria e paz. E impossivel nao se contagiar com a ingenuidade de alguns Espiritos que lhe pedem a bençao, beijinhos e guarana. Esses Espiritos compoem a Linha de Trabalho das Criancas, ou Ibejada - como sao conhecidos em alguns terreiros de Umbanda.
A Linha das Criancas representa a renovaçao espiritual que deve acontecer dia-apos-dia em todo ser humano, em atençao ao que disse Jesus aos seus discipulos quando andava na Terra: "Quem nao se tornar como uma criança, nao vera o Reino de Deus".
Quando se manifestam nos Terreiros, as crianças ocultam sua açao atraves de brincadeiras. Porem realizam verdadeiras curas que acabam se tornando imperceptiveis aos mais desavisados.
Por estarem ligados a ato de renovaçao dos seres, esses Espiritos trabalham na vibraçao de Oxumare, Orixa responsavel por renovar todas as coisas.
Anualmente, nos terreiros de Umbanda, sao realizadas festas com distribuiçao de doces e balas a crianças e adultos. Nao sao apenas doces de açucar ou mel, mas sao verdadeiros depositarios de energia que sofreram imantaçao com varios propositos espirituais e materiais.
Existe muita controversia sobre a verdadeira natureza das Crianças. Alguns autores as definem como sendo de espiritos que desencarnaram ainda crianças e outros dizem que a forma de se apresentarem como crianças nao passa de um simbolismo.
Rubens Saraceni nos afirma atraves de seus escritos psicografados que as crianças sao elementais da natureza que manifestam-se nos terreiros com o proposito de trazer renovaçao das forças espirituais e ate mesmo materiais.

Cosme e Damiao sao dois santos catolicos que no processo de sincretismo religioso acontecido no Brasil ficaram conhecidos como os representantes da Linha das Crianças. Muitos espiritos ate mesmo se apresentam com os nomes de Cosminho, Cosme, Damiao, entre outros.
Quando ocorreu o processo de sincretismo no Brasil, os negros oriundos da Africa associaram as figuras de Sao Cosme e Sao Damiao aos Orixas Gemeos cultuados sob o nome de Ibeji, que quer dizer "dois gemeos".
Cosme e Damiao eram dois irmaos que nasceram na Arabia, mas viveram no Oriente, na Asia Menor. Eram cristaos e por amor aos doentes praticavam a medicina sem cobrar qualquer quantia dos pobres. Realizavam curas em nome de Jesus e, por isso foram tidos como feiticeiros. O imperador Diocleciano, perseguidor dos cristaos, mandou que eles fossem presos e que se submetessem aos deuses romanos. Como se negassem a abandonar a fe crista, foram castigados com pedras e flechadas, mas resistiram. Logo depois foram decapitados. Acredita-se que tal fato ocorreu no Seculo IV da Era Cristã...

A Linha dos Pretos Velhos


Assim como Caboclo, Preto-Velho, no Ritual de Umbanda Sagrada, é um grau manifestador de um Mistério Divino.
Nem todo Preto-Velho é preto ou velho. São espíritos elevadíssimos que se manifestam sob a aparência de negros escravos, trazendo-nos o exemplo da humildade e simplicidade da alma.
Seu campo de atuação é vastíssimo e os encontramos atuando nas Sete Linhas de Umbanda, trabalhando a Evolução nos sete sentidos da vida dos seres.
Sua manifestação desperta a paz, a tranquilidade, a esperança e a perseverança, remetendo-nos à reflexão de nossa própria natureza íntima.
Com sua sabedoria e paciência, traz sempre uma palavra de fé e de consolo." (1)
É impossível comentar a respeito dos amados Pretos e Pretas-Velhas sem subir à lembrança a figura simpática dos velhinhos que mais se parecem com os avós de cada ser, com suas palavras doces, pacientes e tranquilas a respeito de tudo. São eles sempre tolerantes com as mazelas dos milhares de filhos que se sentam diante deles nos Centros de Umbanda e buscam uma palavra de conforto e carinho.
Palavras de conforto e carinho é o que transmitem com maestria, aliviando de seus filhos o peso da lida cotidiana, incutindo-lhes resignação, fé e esperança no porvir. Falam com mansidão e temperança. Não se aborrecem com as pessoas que, mesmo após ouvir seus conselhos sempre sábios, continuam tropeçando e caindo em erros e armadilhas feitas por elas mesmas.
É impossível falar a respeito dos queridos Pretos-Velhos, sem subir à memória a triste condição em que estiveram durante tanto tempo no solo brasileiro e em terras estrangeiras, sendo humilhados e subjugados a ferro e chicote. Trazem consigo a recordação daqueles famigerados anos de escravidão.
Écerto que nem todo Preto-Velho foi escravo nas terras brasileiras, mas uma grande parte dos Espíritos que assim se apresentam esteve encarnado na pele de negros africanos vivendo sob a tortura dos brancos.

(1) "As Sete Linhas de Umbanda - A Religião dos Mistérios", pág.151 - Rubens Saraceni; Ed. Madras.
(2) www.vivabrazil.com