segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Testemunho Umbandista

Muitos pensam que a boa conduta e o melhor testemunho de verdadeiros filhos de Deus cabem apenas aos crentes cristãos. Até mesmo são julgados em seus comportamentos pelo fato de pertencerem à uma religião crente. De fato, qualquer pessoa que se considera um servo do Deus Criador ou discípulo de Jesus deve primar por uma conduta irrepreensível perante os incrédulos. Deve ser uma pessoa que brilhe nas trevas como um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo. Os adeptos das religiões cristãs seguem um código de conduta que os auxiliam na árdua tarefa de demonstrar ao mundo que foram tocados pelo Deus Vivo e que agora são verdadeiramente novas criaturas, com procedimentos sociais de acordo com o novo nascimento, transformados e iluminados pela Luz Divina. A Bíblia é esse código de conduta e as mensagens dos dirigentes cristãos reforçam a necessidade de mudança interior constante e diária.

Tal proceder nas demais religiões segue sempre um código ou uma diretriz onde o neófito se amolda e altera sua atitudes para melhor. Abandona os vícios e os maus hábitos, interrompe sua trajetória de infração das leis divinas, educa seus pensamentos e suas palavras e passa a anunciar "quão grandes coisas Deus fez" por ele.

Movidos pela alegria contagiante de uma luz que lhes abriu o discernimento e apontou o caminho da perfeição, seguidores de várias religiões trabalham constantemente por trazer para o seu grupo de fiéis, cada vez mais, indivíduos considerados espiritualmente perdidos.

Na Religião de Umbanda, Luz Divina que aponta os caminhos para uma perfeição a ser conseguida a passos lentos, a importância do bom testemunho e a necessidade da boa conduta são quase sempre esquecidas pelos seus adeptos. Sob a proteção do livre arbítrio e da liberdade de expressão que a Umbanda concede em grande escala, grande parte dos médiuns de Umbanda prossegue suas vidas cotidianas sem qualquer preocupação com a remodelação de suas mentes e com o freio dos seus impulsos. Segue seus caminhos sem qualquer responsabilidade com a nova Religião que abraçou.

O médium de Umbanda deve entender que não é porque descobriu ser portador de um dom divino que já está pronto. Não é porque descobriu que pode ser o aparelho de um Caboclo que sua vida espiritual já não precisa de cuidados e aprimoramento. Pelo contrário, agora sim é que deve preocupar-se com suas atitudes, seus pensamentos e sua higiene espiritual. Tendo agora os olhos abertos a uma nova realidade pode visualizar a grande oportunidade de buscar o aperfeiçoamento que a tão misericordiosa Espiritualidade está lhe oferendo.

Já foi falado que a Umbanda é um Pronto-Socorro para as almas aflitas, e tal pensamento não foge à realidade. Mas, a Umbanda é também uma Escola. Na Umbanda, religião surgida dos anseios de milhares de Espíritos ávidos por fazerem a Caridade, todos têm a oportunidade de educar um dom natural chamado mediunidade e têm à sua frente um Caminho aberto para seguir em busca do aperfeiçoamento e em trabalho pelos resgates de vidas anteriores.

O médium de Umbanda não pode ficar de braços cruzados em se tratando de mudança interior. Há muito a fazer! A mediunidade é apenas uma chance de aprimoramento. O dom recebido da Divindade Superior resume-se em chave para a abertura de portas que escondem salões carentes de limpeza existentes no grande edifício da própria alma do médium. Esquecidos pelo tempo, mas vivos e vibrantes aos Olhos Divinos, tais compartimentos do Espírito do médium estão abarrotados de entulhos que se acumulam e criam montanhas de sujeiras.

O código de conduta do médium de Umbanda está nas boas e santas palavras dos Caboclos e dos Pretos Velhos, portadores divinos da Luz e da Sabedoria. É com base nas palavras e nas atitudes exemplares dos Guias de Lei que o médium umbandista deve limpar seu coração e sua mente, tirando do seu Espírito toda a sujeira adquirida ao longo dos séculos e durante sua atual jornada encarnatória.

O umbandista precisa entender que sua evolução não se resume em incorporações ou aplicação de passes. Seu aperfeiçoamento também depende do que faz agora de posse de uma dádiva que é forte e frágil ao mesmo tempo. A perfeição não é apenas receber Entidades, mas está ligada à conduta que representantes desses Espíritos devem procurar cultivar no dia-a-dia. Aperfeiçoamento é algo contínuo e ultrapassa sucessivas vindas e retornos ao mundo material.

O médium umbandista não pode ser aquela pessoa dada a falatórios e mexericos, quando então abre a boca para ferir e acusar seus próprios irmãos de jornada. Covardes, desferem palavras de impropérios aos semelhantes sem que estes tenham oportunidade de se defenderem por força da ausência física. Como bom seguidor da humildade ensinada pelos Pretos Velhos, o médium umbandista abre seus lábios para dirigirem orações e súplicas pelos irmãos que muitas vezes são ignorantes de sua pouca evolução espiritual e, quiçá, intelectual.

O umbandista, representante da Religião inaugurada pelos emissários de Aruanda, tem grande importância na boa impressão que os homens naturais terão à respeito de sua fé. Que fé é essa, perguntarão, se o próprio seguidor anda metido em brigas e contendas, falatórios sem fim, falcatruas de grande torpeza, enganos e mentiras descabidas e mirabolantes, xingamentos e maldiçoes proferidas contra tudo e contra todos, bebedeiras e glutonaria incessantes, sensualidade e promiscuidade descaradas, abusos às Leis Divinas e humanas?

Quem acreditará numa Umbanda cujo seguidor, portador do nobre título de "médium", é um sujeito irascível, briguento, fofoqueiro, mentiroso, soberbo, vaidoso? Esse umbandista transmite boas palavras enquanto incorporado, mas quando consciente de suas ações, despeja grande carga negativa aos semelhantes no uso de palavras que ferem aos ouvidos mais rudes. Seus gestos, no Templo ou na Tenda, são louváveis e nos impelem à imitação, porém na rua ou em casa, seus atos são agressivos, vergonhosos ou animalescos. Enquanto usa as vestes sacerdotais umbandistas, brilha como farol no mar bravio e escuro, mas quando traja roupas seculares e vive entre os normais, envergonha os céus com toda a sua nudez espiritual, trazendo escuridão e trevas nas atitudes e no andar torto.

Tanto melhor que tal seguidor ainda coberto pela grossa casca da materialidade animal não diga que é umbandista, mas perigosa a coisa se torna quando sai divulgando aos quatro cantos sua participação na Religião dos Caboclos e dos Pretos Velhos.

O médium umbandista que galga a perfeição continuamente vigiando os próprios passos e buscando a melhoria individual em qualquer lugar onde as circunstâncias exigem, sem a ajuda das próprias palavras, torna-se um monumento de testemunho da Jurema. Vive na Terra como se caminhasse nos campos de Aruanda ao lado dos Guias de Lei que o acompanham silenciosamente e felizes. Suas pisadas são uma bússola para os que ainda se encontram perdidos nas sendas da vida. Sua luz interna explode em multicoloridos raios luminosos que aquecem espíritos habitantes das gélidas regiões trevosas.


Deus Salve a Umbanda!


Julio Cezar Gomes Pinto