terça-feira, 3 de novembro de 2009

Casa de Caridade Realiza Festa Cigana de 2009

24/05/2009

No dia 24 de maio, último domingo, os mediuns da Casa de Caridade Santo Antônio de Pádua reuniram-se numa grande Gira em Homenagem a Santa Sara, padroeira dos Ciganos. Iluminados por uma grande energia que envolveu a todos, médiuns e assistentes participaram da comemoração em torno de uma tenda simbólica erguida no meio do espelho (Congá). A imagem de Santa Sara foi posta no meio da tenda e uma mesa repleta de frutas, flores e velas preenchia todo o espaço em volta do altar.
O Caboclo Flecha Dourada iniciou a sessão com uma palestra alusiva à caminhada errante dos Ciganos na Terra. Comparou à vida daqueles que, por um período de tempo, caminham enquanto encarnados em busca da Espiritualidade. Disse que somos como o Povo Cigano, e que nossa caminhada na Terra precisa ser realizada todos os dias, em busca de uma vida espiritual mais harmoniosa.
Logo depois da mensagem o Caboclo Flecha Dourada autorizou a chamada dos Ciganos. Mais uma vez, o Cigano Juan manifestou-se em frente ao Altar (Pegi) da Casa de Caridade e saudou os presentes.
Muito contente pela linda homenagem prestada à Santa Sara, o Cigano Juan abraçou todos os médiuns, "um a um" - como relatou o médium Oscar -, e entregou uma breve mensagem aos participantes da Gira.
Depois, outros ciganos manifestaram-se no Terreiro e juntos comemoraram o dia de Santa Sara Kali. Apresentaram-se também o Cigano Pablo, o Cigano Luiz Fernando, a Cigana Rosita, a Cigana Rosália, a Cigana Esmeralda, entre outros.
Os Ciganos passaram a benzer as moedas douradas trazidas pelas pessoas e, além de conselhos e passes, deram a bênção a todos.
Santa Sara Kali, santa católica cuja história remonta aos tempos de Jesus, é considerada através do sincretismo adotado na Umbanda como a figura representativa de Egunitá, Orixá que tem como elemento de força o fogo.
A Gira Comemorativa dos Ciganos começou às20 horas e terminou às 23:30hs, depois que todos saborearam as frutas da mesa e a sangria e o ponche preparado para a festa.
Salve o Povo Cigano!
Salve as Sete Linhas de Umbanda.












quinta-feira, 21 de maio de 2009

Quatro Aspectos da Mediunidade Sem Instrução

O estudo contínuo dos assuntos relacionados à mediunidade na Umbanda remove dentre seus seguidores dezenas, quiçá centenas, de crendices, costumes e hábitos que têm se mostrado nocivos à própria Religião. Muitos umbandistas têm uma visão deturpada do que significa o dom mediúnico em suas vidas e dentro dos terreiros. Centenas de adeptos desenvolvem uma mediunidade repleta de entendimento errôneo, suposições equivocadas e vícios comuns a pessoas que pouco, ou quase nenhum, acesso têm à informação. Muitos desses equívocos são provocados justamente pelo desconhecimento. Os maus hábitos acumulam-se ao longo do tempo e transformam-se em vícios que necessitam de tratamento imediato. Os erros acontecem aos montes causando muito desconforto aos Caboclos de Aruanda, que vez por outra precisam intervir para remediar a situação. A culpa de tais problemas poderia ser atribuída a muita gente: Chefes de Terreiro despreparados, médiuns afoitos ou de pouca instrução, seguidores pouco compromissados com a religião, dirigentes desinteressados e até mesmo Espíritos desencarnados causadores de demandas. A realidade mostra, porém, que a maior causa de todos os problemas que afetam a missão do umbandista é unicamente a falta de estudo. Sem o mínimo conhecimento de tudo o que envolve o mecanismo da mediunidade, assim como em muitos outros aspectos da vida comum, os erros grosseiros e infantis acontecem em profusão. A mediunidade, a partir de uma prática sem base teórica, tende a ser conduzida como um brinquedo nas mãos de infantes.
A mediunidade não é superstição. Partindo da premissa de que deve ser exercitado numa perfeita união entre a Fé e a Sabedoria, o dom mediúnico transforma-se em valioso instrumento de propagação das verdades espirituais. De outra forma, a mediunidade equivocada é conduzida do mesmo jeito como o adivinho faz com as entranhas de um animal. Não há verdades. Tudo é subjetivo e enganoso. Falta ciência e sabedoria.
A mediunidade supersticiosa transforma os Guias Espirituais em oráculos domésticos, onde os mais ínfimos problemas de ordem inferior são levados em conta. Assim, o Preto Velho passa a ser o informante da traição de um marido ou do futuro econômico de um filho carnal. O Caboclo, por sua vez, transforma-se em ajudante fiel dos negócios ou aquele que vai vencer um inimigo de desafeto. Na mesma proporção, o Exu abandona a condição de Guardião e assume o papel de vingador ferrenho, ou um escravo à disposição do médium. A Pomba Gira, sob a mesma ótica, é tida como uma prostituta arrependida e por isso mesmo obrigada a arranjar parceiros para pessoas de moral duvidosa.
A mediunidade não é show pirotécnico onde o que se vê são rápidos e ilusórios lampejos de brilhos multicoloridos. O médium sem instrução transforma o dom em ótimo artifício na exibição de espetaculares manobras que mais chamam a atenção dos curiosos e dos seres trevosos do que dos Espíritos de Luz. Assim, tudo é espantoso e deslumbrante. Todos os gestos do médium em transe são inchados de exageros. Todas as receitas de oferendas são idênticas às listas de um estranho guisado. Os pontos riscados transformam-se numa mandala confusa de desenhos e rabiscos infantis sem fundamento. As brancas vestes sacerdotais assumem a aparência de fantasias carnavalescas em que imperam o luxo, a vaidade e o exibicionismo.
Na mediunidade pirotécnica, vale mais a grosseira presença física do médium do que a suave e discreta participação dos Guias de Luz. O Preto Velho se esconde, o Caboclo se afasta, o Exu ri do fanfarrão e o médium se exibe. Neste tipo de condução da mediunidade há uma completa falta de força espiritual, pois a carne assume todas as funções do medianeiro e o animismo, a mistificação e a charlatanice estão em primeira linha.
Entre tantas formas de se exercitar a mediunidade há também a que leva em conta a ascensão social do médium. É a mediunidade interesseira.
A mediunidade interesseira é aquela em que as reais intenções do indivíduo são quase desconhecidas. Há muitos interesses em jogo, e o principal é o de “subir” na vida. O médium intenciona ser aplaudido, então usa a mediunidade para chamar a atenção da platéia. O médium quer obter dinheiro de forma menos trabalhosa, então comercializa o dom. Se tem interesse em reconhecimento público, então transforma a mediunidade em degrau para a subida aos palanques políticos, aos palcos da mídia e aos púlpitos das câmaras e agremiações. Tal como o médium pirotécnico, o médium interesseiro quer aparecer, mas com o fim certo de obter algum rendimento financeiro.
Nesse tipo de mediunidade, o indivíduo não se envergonha ao “pedir” o pagamento pelo serviço prestado. Seu rosto não enrubesce quando dita o valor daquilo que vergonhosamente chama de caridade. Se precisar usar uma máscara, certamente o fará. Mas, em seu tempo, lançará por terra a fantasia e mostrará sua verdadeira e tenebrosa face. Como o lobo entre os cordeiros.
A mediunidade ignorante é exercida pelos que verdadeiramente têm grande aversão ao estudo e à meditação. Nessa modalidade, o médium conscientemente classifica o estudo contínuo como algo desnecessário. Acredita que somente as instruções dos Caboclos já são suficientes para que ele seja um grande instrumento da Comunidade Espiritual. A leitura, a pesquisa e o conhecimento dos mecanismos mediúnicos são coisas sem importância na visão dos ignorantes.
Neste caso, o médium não se importa em cometer diversos absurdos em nome de Deus, pois não há o conhecimento do que realmente é a vontade divina. Fala, mesmo usando conversações aparentemente profundas, do mesmo jeito como discursa um simples camponês acerca do universo astronômico. Age sempre de forma impensada, ainda que com a maior boa vontade. Suas ações são completamente sem método, critério ou planejamento. Tem uma visão do mundo espiritual como seus antepassados que outrora atribuíam ao relâmpago um castigo dos deuses ou aos abalos sísmicos uma demonstração da ira divina. Na mediunidade ignorante quanto menos se estuda, mais se erra.
Ser instrumento da Espiritualidade Maior é uma benção recebida por muitos. Porém, como qualquer instrumento necessita de um aprimoramento e de ajustes constantes, assim é o médium de Umbanda a serviço dos Caboclos e Pretos Velhos.
Não basta ter mediunidade. Mas, é importante que esta seja útil aos interesses do Criador, pois todo médium é um depositário da confiança de Deus. Para ser útil, a mediunidade tem que estar firmada nas instruções que vêm do Alto.
Bom seria se todos os médiuns aplicassem a sabedoria e o conhecimento no aperfeiçoamento da mediunidade e se o estudo continuado fosse uma prerrogativa para um perfeito ministério mediúnico.

Julio Cezar Gomes Pinto
Diretor-Presidente da Casa de Caridade Santo Antônio de Pádua

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Testemunho Umbandista

Muitos pensam que a boa conduta e o melhor testemunho de verdadeiros filhos de Deus cabem apenas aos crentes cristãos. Até mesmo são julgados em seus comportamentos pelo fato de pertencerem à uma religião crente. De fato, qualquer pessoa que se considera um servo do Deus Criador ou discípulo de Jesus deve primar por uma conduta irrepreensível perante os incrédulos. Deve ser uma pessoa que brilhe nas trevas como um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo. Os adeptos das religiões cristãs seguem um código de conduta que os auxiliam na árdua tarefa de demonstrar ao mundo que foram tocados pelo Deus Vivo e que agora são verdadeiramente novas criaturas, com procedimentos sociais de acordo com o novo nascimento, transformados e iluminados pela Luz Divina. A Bíblia é esse código de conduta e as mensagens dos dirigentes cristãos reforçam a necessidade de mudança interior constante e diária.

Tal proceder nas demais religiões segue sempre um código ou uma diretriz onde o neófito se amolda e altera sua atitudes para melhor. Abandona os vícios e os maus hábitos, interrompe sua trajetória de infração das leis divinas, educa seus pensamentos e suas palavras e passa a anunciar "quão grandes coisas Deus fez" por ele.

Movidos pela alegria contagiante de uma luz que lhes abriu o discernimento e apontou o caminho da perfeição, seguidores de várias religiões trabalham constantemente por trazer para o seu grupo de fiéis, cada vez mais, indivíduos considerados espiritualmente perdidos.

Na Religião de Umbanda, Luz Divina que aponta os caminhos para uma perfeição a ser conseguida a passos lentos, a importância do bom testemunho e a necessidade da boa conduta são quase sempre esquecidas pelos seus adeptos. Sob a proteção do livre arbítrio e da liberdade de expressão que a Umbanda concede em grande escala, grande parte dos médiuns de Umbanda prossegue suas vidas cotidianas sem qualquer preocupação com a remodelação de suas mentes e com o freio dos seus impulsos. Segue seus caminhos sem qualquer responsabilidade com a nova Religião que abraçou.

O médium de Umbanda deve entender que não é porque descobriu ser portador de um dom divino que já está pronto. Não é porque descobriu que pode ser o aparelho de um Caboclo que sua vida espiritual já não precisa de cuidados e aprimoramento. Pelo contrário, agora sim é que deve preocupar-se com suas atitudes, seus pensamentos e sua higiene espiritual. Tendo agora os olhos abertos a uma nova realidade pode visualizar a grande oportunidade de buscar o aperfeiçoamento que a tão misericordiosa Espiritualidade está lhe oferendo.

Já foi falado que a Umbanda é um Pronto-Socorro para as almas aflitas, e tal pensamento não foge à realidade. Mas, a Umbanda é também uma Escola. Na Umbanda, religião surgida dos anseios de milhares de Espíritos ávidos por fazerem a Caridade, todos têm a oportunidade de educar um dom natural chamado mediunidade e têm à sua frente um Caminho aberto para seguir em busca do aperfeiçoamento e em trabalho pelos resgates de vidas anteriores.

O médium de Umbanda não pode ficar de braços cruzados em se tratando de mudança interior. Há muito a fazer! A mediunidade é apenas uma chance de aprimoramento. O dom recebido da Divindade Superior resume-se em chave para a abertura de portas que escondem salões carentes de limpeza existentes no grande edifício da própria alma do médium. Esquecidos pelo tempo, mas vivos e vibrantes aos Olhos Divinos, tais compartimentos do Espírito do médium estão abarrotados de entulhos que se acumulam e criam montanhas de sujeiras.

O código de conduta do médium de Umbanda está nas boas e santas palavras dos Caboclos e dos Pretos Velhos, portadores divinos da Luz e da Sabedoria. É com base nas palavras e nas atitudes exemplares dos Guias de Lei que o médium umbandista deve limpar seu coração e sua mente, tirando do seu Espírito toda a sujeira adquirida ao longo dos séculos e durante sua atual jornada encarnatória.

O umbandista precisa entender que sua evolução não se resume em incorporações ou aplicação de passes. Seu aperfeiçoamento também depende do que faz agora de posse de uma dádiva que é forte e frágil ao mesmo tempo. A perfeição não é apenas receber Entidades, mas está ligada à conduta que representantes desses Espíritos devem procurar cultivar no dia-a-dia. Aperfeiçoamento é algo contínuo e ultrapassa sucessivas vindas e retornos ao mundo material.

O médium umbandista não pode ser aquela pessoa dada a falatórios e mexericos, quando então abre a boca para ferir e acusar seus próprios irmãos de jornada. Covardes, desferem palavras de impropérios aos semelhantes sem que estes tenham oportunidade de se defenderem por força da ausência física. Como bom seguidor da humildade ensinada pelos Pretos Velhos, o médium umbandista abre seus lábios para dirigirem orações e súplicas pelos irmãos que muitas vezes são ignorantes de sua pouca evolução espiritual e, quiçá, intelectual.

O umbandista, representante da Religião inaugurada pelos emissários de Aruanda, tem grande importância na boa impressão que os homens naturais terão à respeito de sua fé. Que fé é essa, perguntarão, se o próprio seguidor anda metido em brigas e contendas, falatórios sem fim, falcatruas de grande torpeza, enganos e mentiras descabidas e mirabolantes, xingamentos e maldiçoes proferidas contra tudo e contra todos, bebedeiras e glutonaria incessantes, sensualidade e promiscuidade descaradas, abusos às Leis Divinas e humanas?

Quem acreditará numa Umbanda cujo seguidor, portador do nobre título de "médium", é um sujeito irascível, briguento, fofoqueiro, mentiroso, soberbo, vaidoso? Esse umbandista transmite boas palavras enquanto incorporado, mas quando consciente de suas ações, despeja grande carga negativa aos semelhantes no uso de palavras que ferem aos ouvidos mais rudes. Seus gestos, no Templo ou na Tenda, são louváveis e nos impelem à imitação, porém na rua ou em casa, seus atos são agressivos, vergonhosos ou animalescos. Enquanto usa as vestes sacerdotais umbandistas, brilha como farol no mar bravio e escuro, mas quando traja roupas seculares e vive entre os normais, envergonha os céus com toda a sua nudez espiritual, trazendo escuridão e trevas nas atitudes e no andar torto.

Tanto melhor que tal seguidor ainda coberto pela grossa casca da materialidade animal não diga que é umbandista, mas perigosa a coisa se torna quando sai divulgando aos quatro cantos sua participação na Religião dos Caboclos e dos Pretos Velhos.

O médium umbandista que galga a perfeição continuamente vigiando os próprios passos e buscando a melhoria individual em qualquer lugar onde as circunstâncias exigem, sem a ajuda das próprias palavras, torna-se um monumento de testemunho da Jurema. Vive na Terra como se caminhasse nos campos de Aruanda ao lado dos Guias de Lei que o acompanham silenciosamente e felizes. Suas pisadas são uma bússola para os que ainda se encontram perdidos nas sendas da vida. Sua luz interna explode em multicoloridos raios luminosos que aquecem espíritos habitantes das gélidas regiões trevosas.


Deus Salve a Umbanda!


Julio Cezar Gomes Pinto